“Em primeiro lugar, quando se fala em sexo, é preciso que exista muita cumplicidade entre o casal. Mas o que acho importante dizer é que não precisa ter medo. Nós, deficientes, não vamos quebrar! E em caso de dúvidas, é só perguntar, conversar” – Leandro Portella
“Você não pode, pode?
Posso o quê?
Bem, você não pode fazer sexo, pode?
Por que não?
Bem, você não pode andar…
Você anda enquanto faz sexo?
Eu não tinha visto isso no Kama Sutra.”
Essa citação está numa das páginas de abertura do livro “Inclusão e Sexualidade na Voz das Pessoas com Deficiência Física”, de Ana Cláudia Bortolozzi Maia, é um dos textos preferidos de Leandro Portella.
É com base no que aprimorou com publicações como esse livro e o que vivenciou desde que tornou-se tetraplégico que ele vai ministrar, em conjunto com Paula Ferrari, fisioterapeuta da AACD de São Paulo, o curso Lesão Medular: Reabilitação e Sexualidade, que será realizado amanhã no Grand Hotel Royal, das 8h às 18h.
Destinado a deficientes, cuidadores, familiares, estudantes e profissionais da área da saúde e demais interessados, o curso vai abordar vários temas: anatomia da coluna vertebral, medula espinhal e aparelho geniturinário, aspectos clínicos da Lesão Medular (Paraplegia e Tetraplegia), principais causas de Lesões na Medula, fases da reabilitação, principais disfunções sexuais masculinas e femininas, possíveis dificuldades sexuais, orgânicas e psicossociais, orientações e possibilidades de tratamento.
A proposta do curso, conta Leandro, é mostrar que a sexualidade de lesados medulares é assunto que precisa ser tratado com informação, mas também com naturalidade. “Em primeiro lugar, quando se fala em sexo, é preciso que exista muita cumplicidade entre o casal. Mas o que acho importante dizer é que não precisa ter medo. Nós, deficientes, não vamos quebrar!”, ele brinca. “E em caso de dúvidas, é só perguntar, conversar”.
A redescoberta da sexualidade, para ele, que tem movimentos somente dos ombros para cima, foi espontânea e natural. “Eu namorava quando fiquei tetraplégico e o relacionamento durou por mais dois anos depois do acidente”, confessa. “Mas eu nunca tive desinformação. Sempre procurei ler muito”. Tanto que uma de suas últimas aquisições veio diretamente do México – uma espécie de Kama Sutra para cadeirantes. Presente de um amigo, o Silla Sutra – Sexualidad Activa, de Arturo Valdez Guzmán (no Brasil, por importação), vai lhe servir de fonte de informação que será compartilhada no blog que ele mantém há 2 anos – e que ficou em segundo lugar num prêmio nacional no ano passado, o Top Blog 2010, na categoria Saúde Pessoal.
“Sexualidade é o segundo tema na lista dos mais abordados por internautas. São deficientes, seus parceiros, seus familiares, em busca de informações e de um espaço para compartilhar histórias”, avisa. “Sexualidade só perde em interesse para o assunto célula-tronco”.
Leandro passou pelo procedimento experimental com células-tronco há 7 anos no Hospital das Clínicas, em São Paulo. De trinta pacientes que fizeram a infusão apenas um recuperou os movimentos e voltou a andar. “Não vou ser hipócrita e dizer que não penso em adquirir meus movimentos. Sonho até em ser paraplégico. Mas tenho tenho qualidade de vida muito boa. E só morro de medo de morrer”, fala o homem de 30 anos, em tom e dom de extrair admiração de quem o escuta
.